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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Diálogo com o tempo II



- Tempo! Tu mais uma vez!

- Incomodo, querida?

- De certo modo, sim... Por quê fazes isso comigo?

- Do que falas?

- Da sua imprecisão! De quê mais poderia falar?

- Definas imprecisão.

- Passas rápido quando a felicidade me contagia, mas és tão lento quando a tristeza é que me acompanha...

- Sinto muito, menina, mas a culpa não é minha.

- Como assim? És tu o responsável pelo cair da noite e o nascer do sol! Tu és aquele que controla o dia, a noite e os segundos que fazem com que ambos passem!

- De fato, sou o criador do noite e do dia... Mas é você quem decide a hora de dormir e acordar.

- Mas tenho que seguir suas indicações! Como posso ir contra o relógio? Estaria seguindo de modo contrário o ciclo e, assim, acabaria perdida em meio à minha própria busca.

- E o quê buscas exatamente?

- Bem... Não sei ao certo. Algo que me traga um sentimento próximo ao pertencer...

- Buscas então algo que faça com que te sintas viva?

- Isso! Um sentimento que me prove que a vida faz parte de mim e eu pertenço à ela!

- Entendo.

- E então?!

- Quê mais queres, querida?

- Como assim? E quanto à minha busca, tempo?

- Estou aqui.

- Sim, eu sei. Não vais me ajudar?

- Se buscas algo que faça com que sintas que estás viva, olhe para o relógio. Cada movimento do ponteiro é a prova concreta de que algo passa... A grande questão é que não enxergas o principal.

- E qual seria o principal, tempo?

- A vida é aquela que corre, não eu... Sou apenas o instrumento usado por alguns para justificar suas derrotas. Se em algum momento da vida você falhou, é porque era inexperiente, não teve tempo suficiente para se preparar, ou então gozou do excesso e se perdeu em meio ao ócio.

- Sinto muito, tempo! Nunca pensei por esse lado...

- Não te incomodes, ninguém parou para pensar. Aliás, ninguém nunca parou para nada. Assim como eu, vocês, concretização da carne, correrão até o dia de sua partida final.

- E caso eu escolha parar de correr?

- Não tens essa opção. Se escolher definitivamente que a corrida cessará, é porque ela havia de. Em hipótese nenhuma serás capaz de romper meu ciclo. Tudo ocorre em sua devida hora.

- Então estás me dizendo que nenhum poder tenho sob mim mesma? Que tudo que acontece comigo e ao meu redor é controlado por ti?

- De maneira nenhuma. Como disse, sou apenas um instrumento da vida. Ela é quem rege tudo aquilo que acontece.

- Isso significa que sou como um fantoche.

- Que dizes com isso?

- Quero dizer que minha história já tem um roteiro, personagens e todos somos apenas bonecos com os quais a vida monta sua peça?

- De certo modo... Mas és tu quem decide o rumo do espetáculo.

- Mas se estou amarrada às tuas rédeas, como posso gozar de liberdade para decidir o que vem pela frente?

- Não tens o poder de mudar o seu passado, muito menos de decidir teu futuro. Isso é coisa minha, sou eu quem controla o que foi e o que vem.

- Ratifico, pois, minha afirmativa. Estou presa às tuas decisões.

- Entendas, menina, e é a última vez que vou te explicar. És incapaz de controlar o tempo que foi e que vem, mas estás perfeitamente apta a tomar decisões que serão as responsáveis pelo rumo dos acontecimentos. Gozas de liberdade para fazer suas escolhas e eu apenas controlo o que acontece após elas. Reges teu presente, base da vida. Portanto, és dona de tua própria história.

- Então, além de personagem, sou diretora e roteirista de minha própria peça?

- Exato. A vida e eu somos apenas expectadores.

- E como faço para ser aplaudida por tais mestres?

- Querida, esta é uma pergunta complicada...

- Entendo. Peço que a descarte.

- E como poderia? Entenda que vivemos de inversos. A mais complicada das perguntas pode ser resolvida com a mais simples das respostas.

- Então, repito: como faço para receber aplausos ao fecharem as cortinas?

- Vivas.