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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A saudade mata



Quando não há mais o gosto da exceção, o cotidiano consome todas as vias do paladar. É impossível sentir o doce, quando, dentro da boca, se abriga um punhado de sal. Porém, como não recordar-se do sabor do açúcar? A questão não é a lembrança: apelo por momentos vividos, resgate de sentimentos passados ou lamento pela perda. O que veio à tona e, neste momento, eu encaro como uma espécie de êxito pessoal, é que não sinto mais falta. Eu lembro, mas não sinto saudade. Essa vontade desesperadora de ter de volta um aquilo que já se perdeu... Essa ausência que arranha, pinica, belisca e incomoda... Cadê?

Saudade boa é aquela que faz cócegas, lembrança que faz sorrir na fila do banco, no ponto do ônibus ou durante o banho. Saudade boa não é a que faz acordar chorando, que afeta não apenas o resto do dia, mas da semana... Por que não da vida inteira?

Vida.

Tão ampla em todo o seu alcance e significado. Viver é tão magnífico, extasiante e envolvente... Quanto passageiro. Um dia você acorda e... Morre.

Morte.

A morte é o intervalo entre um amor e outro. A saudade que machuca, portanto, é a fumaça que cega nossos olhos, enquanto morremos. Ela corta, dilacera, penetra e nos impede de enxergar o caminho para o renascimento.

É quando vem o vento. Uma brisa soprada por outro alguém. E, subitamente, você sente um arrepio. Um arrepio que faz cócegas e dá vontade de sorrir. E você se pega sorrindo, surpreendendo-se ao perceber que ainda sabe como fazê-lo naturalmente. É quando o sopro se torna uma ventania, capaz de afugentar toda aquela fumaça que encobria sua visão. Você percebe o quanto a sua cegueira o impedia de enxergar o caminho para a saída. Lá está ele! Não o caminho... Você nem liga para o caminho. Lá está o seu alguém. Então, você percebe:

A saudade mata.

Mas ninguém morre para sempre.