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domingo, 12 de dezembro de 2010

É só um tempo




Uma pessoa não deixa de ser ela mesma
Nem por um segundo
Todos os atos são uma variação do ser
O ser completo em suas múltiplas faces
O ser completo em suas essências
Um único ser
Dentro de outros vários

Ama-se chorando
Não se foge de quem é
A dor consome, mas alimenta
A felicidade distrai, mas não sustenta
As torres do nosso castelo
A gente constrói ao longo do sofrer
Quanto mais intenso
Mais seguras.

A gente foge
A gente corre
É por aí
Mas é tudo um ciclo
Não tem como fugir
São apenas voltas
Pra lá e pra cá
Pra cá e pra lá
E sempre de volta ao mesmo lugar


Não há vergonha por chorar
Lágrimas são apenas traduções
Sentimentos que procuram uma saída
Expressão

A dor se alivia
O choro enfraquece
E o corpo descansa
Mas a mente apenas dá um tempo
Apenas um tempo

Um tempo
Tudo o que é necessário
Um tempo

Vai passar...
Sempre há uma primeira vez
O primeiro corte nunca cicatriza
Até que a gente sofra algum outro
Por cima

Só o amor supera o amor
Nada é maior do que o infinito
Que não o próprio infinito

Sofrer faz parte de amar
Não haveria branco se não existisse o preto
Pra quê calor quando não se sente frio?

O tempo leva
Pra depois trazer de volta
O tempo cura

Vai passar...
Mas depois volta

Depois volta.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Meu tabuleiro



Mas foi bem feito.

Aceitei a regra, agora sou obrigada a apostar no jogo. Eu que tanto fugi desse tabuleiro, agora me torno uma pecinha dele. Aliás, as outras são tão peças quanto eu. Por que as tenho que enxergar como adversárias? Só porque suas cores não são as mesmas que as minhas? Ou porque elas seguem seu caminho ao longo do tabuleiro e eu continuo ali: parada na primeira casa?

Injusto. Sou tanto peça quanto elas, mas o jogo nunca está ao meu favor. Talvez seja culpa destes malditos dados. Suas combinações sempre caem a favor das outras pecinhas. Eles parecem ser lançados sem nenhuma pena ou mínima consideração por mim. Tem que ser isso! Existe algum tipo de força que permanece alterando a combinação dos meus dados a fim de quê eu permaneça atrás das peças as quais o jogo determinou que seriam minhas inimigas.

Mas será que elas realmente são? Quero dizer, às vezes as pecinhas estão tão preocupadas em seguir em frente que sequer olham para trás e vêem que eu continuo parada ali. Isso por um lado é bom, pois elas não percebem que continuo estagnada. Mas por outro significa que eu já não faço mais parte do seu caminho. Elas não precisam de mim para chegar até o fim. E eu continuo aqui, pensando no rumo que elas seguem, analisando seus progressos através das rodadas e comparando-os com o meu. Até que ponto isso vai contribuir para que o jogo vire e eu saia de cabeça erguida?

No meu jogo é assim: eu pergunto e eu mesma respondo.

Não vai contribuir.

É então que realizo a decisão que deveria ter tomado desde o início da partida: ignoro o desempenho das outras pecinhas. Empresto aos dados um pouquinho da força que esse novo rumo me trouxe e espero ansiosamente pela combinação que deles vai surgir. Aquilo que há algumas rodadas me parecia impossível, acontece: eu ando um número considerável de casas. Isso significa que já não estou mais estagnada. Acreditem ou não, mas eu segui em frente!

O fenômeno se repete por algumas rodadas e eu começo a vislumbrar a ambiciosa possibilidade de puxar a minha carta-bônus. O bolinho está ali, parado, esperando que eu ande o suficiente para me aproximar dele e conquistar a oportunidade de tirar uma cartinha dali. Os dados rolam, as combinações surgem e eu sigo caminhando. Eis que vou de encontro ao bolo que pode mudar o meu rumo no jogo.

Subitamente, me lembro: para onde foram as outras pecinhas?

Olho para frente, mas o tabuleiro parece ter ficado nublado. Não consigo enxergar nada que não seja o meu possível caminho, além do bolo de cartas-bônus. Penso em olhar para trás e ver se em algum momento do caminho eu ultrapassei as peças que tanto me incomodaram. Mas não o faço. Para quê?

Sinto uma força dentro de mim que faz com que eu me concentre apenas no meu desempenho e deixe para trás (ou para frente, onde quer que seja) as peças que o jogo determinou que seriam minhas adversárias. Talvez elas nem fossem de verdade. Quem sabe esse conflito tenha sido apenas produto da competição.

De qualquer maneira, volto a me concentrar no bolinho que reluz à minha frente. Os dados que uma vez conspiraram contra mim fizeram com que eu chegasse até ali. Eu nunca iria deixar passar essa oportunidade. Respiro fundo e puxo a carta que mais me parece ser a correta. E ela diz:

“Siga em frente”

Sério? Era esse o meu bônus? Esperando ler algo que mudasse o rumo do jogo, me levasse direto até a última casa do tabuleiro e concedesse o prêmio final, sou obrigada a encarar uma carta que me diz para continuar algo que já estava fazendo? Como devo encarar isso?

Olho para o bolo de cartas e penso ter feito a escolha errada. Entre tantas que tinham ali, eu poderia ter escolhido alguma que facilitasse o meu jogo, aumentasse meu desempenho, acelerasse o meu progresso... Eu vou lá e puxo justamente uma que não altera nada! Não atrapalha, nem ajuda, não faz nada!

Eis que os dados caem na minha frente e sua combinação já não me favorece tanto o quanto vinha fazendo nas rodadas anteriores. Malditos dados! Obedeçam à carta-bônus! Façam com que eu siga em frente!

Mas a culpa não é dos dados.

Muito menos da carta-bônus.

A culpa não é das outras peças.

É então que eu, pecinha, realizo: é em mim que está a força que deve fazer com que eu chegue ao final do jogo.

A carta-bônus dizia “siga em frente” porque eu fiz com que isso acontecesse. Qualquer outra carta que eu puxasse daquele bolo provavelmente diria a mesma coisa. Toda a minha força interior estava focada naquele objetivo, o que fez com que ele fosse gravado na carta que puxei. Na verdade, ela estava em branco. Todas estavam.

Aquele bolo era composto apenas por cartas. O bônus estava dentro de mim.

Tendo realizado isso, esperei por mais uma rodada. A combinação dos dados não me favoreceu tanto, mas foi suficiente para que eu avançasse duas casinhas. Duas casinhas, em um tabuleiro composto por milhares delas. O que no começo me causaria frustração trouxe a mim um sentimento positivo: novamente, eu segui em frente.

Percebi que, ao longo do jogo, eu teria essa oportunidade diversas vezes. Aquilo me encheu de alegria.

Não sei onde as outras pecinhas foram parar. Não consigo enxergar o fim do jogo, tampouco o caminho que ainda me resta até chegar lá. Mas eu continuo obedecendo à carta que puxei: sigo em frente.

Nunca mais vi outro bolo de carta-bônus.

Quem sabe ele tivesse saído de dentro de mim.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A saudade mata



Quando não há mais o gosto da exceção, o cotidiano consome todas as vias do paladar. É impossível sentir o doce, quando, dentro da boca, se abriga um punhado de sal. Porém, como não recordar-se do sabor do açúcar? A questão não é a lembrança: apelo por momentos vividos, resgate de sentimentos passados ou lamento pela perda. O que veio à tona e, neste momento, eu encaro como uma espécie de êxito pessoal, é que não sinto mais falta. Eu lembro, mas não sinto saudade. Essa vontade desesperadora de ter de volta um aquilo que já se perdeu... Essa ausência que arranha, pinica, belisca e incomoda... Cadê?

Saudade boa é aquela que faz cócegas, lembrança que faz sorrir na fila do banco, no ponto do ônibus ou durante o banho. Saudade boa não é a que faz acordar chorando, que afeta não apenas o resto do dia, mas da semana... Por que não da vida inteira?

Vida.

Tão ampla em todo o seu alcance e significado. Viver é tão magnífico, extasiante e envolvente... Quanto passageiro. Um dia você acorda e... Morre.

Morte.

A morte é o intervalo entre um amor e outro. A saudade que machuca, portanto, é a fumaça que cega nossos olhos, enquanto morremos. Ela corta, dilacera, penetra e nos impede de enxergar o caminho para o renascimento.

É quando vem o vento. Uma brisa soprada por outro alguém. E, subitamente, você sente um arrepio. Um arrepio que faz cócegas e dá vontade de sorrir. E você se pega sorrindo, surpreendendo-se ao perceber que ainda sabe como fazê-lo naturalmente. É quando o sopro se torna uma ventania, capaz de afugentar toda aquela fumaça que encobria sua visão. Você percebe o quanto a sua cegueira o impedia de enxergar o caminho para a saída. Lá está ele! Não o caminho... Você nem liga para o caminho. Lá está o seu alguém. Então, você percebe:

A saudade mata.

Mas ninguém morre para sempre.

domingo, 12 de setembro de 2010

Assim é o amor



O amor é tão forte e poderoso que...

Declara.

"Tu és minha vida, o ar que eu respiro"
"Tudo o que eu faço é pensando em ti"
"Tu és minha alma gêmea"



O amor é tão forte e poderoso que...

Compreende.

"Eu te entendo e estou contigo"
"Vamos dar as mãos e enfrentar isso juntos"
"Eu te perdoo. Nosso amor é mais forte que tudo"

O amor é tão forte e poderoso que...

Zela.

"Descanse, meu amor. Hoje eu farei tudo por ti"
"Tem certeza que essa é a melhor escolha? Vamos sentar e refletir juntos"
"Não se preocupe. Eu não deixarei que ninguém te faça mal"


O amor é tão forte e poderoso que...

Evolui.

"Tu és linda. Podemos ficar juntos?"
"Gosto tanto de ti... serias minha namorada?"
"Eu te amo. Queres casar comigo?"


O amor é tão forte e poderoso que...

Solidifica.

"Há tanto, sou louco por ti"
"Para superarmos os problemas, basta que estejamos juntos"
"A cada dia me torno mais apaixonado por ti"


O amor é tão forte e poderoso que...

Supera.

"Nada disso me importa. Eu te amo"
"Nosso amor é mais forte do que tudo"
"Por você, eu suportaria qualquer coisa"


O amor é tão forte
O amor é tão poderoso
Que...

Passa.

Assim como um bom rei sempre perde a coroa
o filósofo morre no auge da sabedoria
e a mais bela flor se vai antes das outras

Porque não há rei que governe com perfeição.
Quanto menos tempo, menos erros.

Nem filósofo que não cometa equívocos.
Quanto menos tempo, menos prepotência.

Tampouco flor que não murche.
Quanto menos tempo viver, mais bela se eternizará.

Assim é o verdadeiro amor. Forte e poderoso por ser assim tão puro, dada a sua efemeridade.


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Voa, passarinho



Voa! passarinho
Bata as asas
Bata as asas
Bata as asas

Vê! mar azulzinho
De águas rasas
De águas rasas
De águas rasas

Volta! pro seu ninho
A dor passa
A dor passa
A dor passa

Vai! devagarinho
Pra sua casa
Pra sua casa
Pra sua casa

Voa, meu passarinho...





In memorian: Branco(+2010+)




sábado, 4 de setembro de 2010

Preciso morrer



Penso que quero morrer
e digo
digo em voz alta:
eu quero morrer
preciso morrer

não quero vida
não preciso da vida
eu quero partida
duas vezes a ida

eu quero o infinito
o pedaço de mundo bonito
o ápice do momento sofrido
não quero ombro amigo

quero só meu umbigo
e o fim do corpo ardido
do coração partido
do caminho perdido

olhos castanhos
com lágrimas azuis
e sorriso branco

olhares estranhos
com choro de luz
e riso de engano

preciso morrer
pois hoje padeço
padeço de dor

estou a morrer
e esse é só o começo
pois morro de amor

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Metades



Eu não sou qualquer uma.
Penso alto, sonho alto
Eu não só desejo
Eu almejo
Vou além

Não me venha com tradicionalismo
Rotina pra mim é sinônimo de descaso
Tanto faz como tanto fez
Eu não sou qualquer uma
Faço questão de dizer outra vez

Não sou peça do seu jogo
Há muito perdi meu livro de instruções
Não conheço regras, leis ou manuais
Tanto fez como tanto faz

Você chega e me trata desse jeito
Acha engraçado brincar de ser perfeito?
Absorve, consume, traz encanto
Fez tanto, como faz tanto

Minha mente me grita
Não se entregue, não perca o chão!
Metade de mim é realidade
Mas a outra metade é coração

Eterno equilibrista
Você encontra uma linha tênue
E brinca com minha divisão
Encara essa mistura como pura diversão

Todo esse mistério só me encanta ainda mais
Se tenho alguma dúvida
Tanto fez, como tanto faz...
Seu sorriso sempre satisfaz

Vai e volta como em um balanço
Surge sempre em momentos de desencanto
Não deixa que eu me livre de você
Quando, secretamente, o que mais quero é te perder

A desilusão é o caminho mais eficaz
Machuca, dilacera, tortura
Mas uma hora
Vai embora
Dolorosa cura

É quando metade de mim grita novamente
Olhe pra dentro e entenda o que você sente!
Enquanto parte de mim receia se entregar
Outra parte precisa de você pra continuar

Luto comigo mesma
E com a mistura que me compõe
Enquanto você fica do seu lado
E assiste a tudo afastado

Talvez tenha medo também...
Sente por mim o que nunca sentiu por ninguém
Quem sempre lidou apenas com momento
Teme que o sentimento leve muito mais além

Metade de você é coração
Mas a outra metade é opção
Às vezes dura, às vezes mole
Algumas vezes cospe, outras engole.

Mas eu
Eu não sou qualquer uma
Vou além

Então me diga...
Qual sabor a nossa história tem?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Mudanças



Mudanças
Mudanças
Mudanças

Alterações?
Não.

Mudanças.

Em toda a plenitude da palavra:

Mudanças.

Andanças.

Transformações?
Não.

Mudanças

Em toda plenitude da vida:

Mudanças

Momentos.

Metamorfoses?
Não.

Mudanças

Em toda plenitude do tempo:

Mudanças

Evolução?
Não.

Mudanças

Em toda plenitude dos sinônimos:

Vida
Tempo
Caminho
Crescimento

Mudanças

Mudanças
Mudanças
Mudanças

Encerramento?
Não.

Mudança...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Talvez fosse a hora



Às vezes, me pego no meio de um devaneio e fico curiosa. Penso que deve haver algo de tão errado comigo, que tenho que parar para tomar um fôlego antes de continuar com a vida. Entregar-me exige tanto que preciso de um tempo para realizar todo o processo. Como posso ser tantas em uma só? Quando durmo uma noite sendo fria, ao amanhecer queimo qualquer um que me tocar. Para quê tanta contradição? Vivo em extremos, opostos, começo e fim de uma ponte. Vôo no chão e rastejo ao céu. Por quê? Entre tantas falhas, pedaços de mim mal encaixados e detalhes fora do lugar, encontrei algo positivo... mas acabo de me esquecer o quê.

Talvez não fosse a hora.

Às vezes, me pego no meio de um relato de devaneio e fico curiosa. Penso que deve haver algo de tão certo comigo, que tenho que parar para tomar um fôlego antes de continuar com a vida.

Talvez seja essa a hora.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Você



Você me faz querer escrever de novo
Aquilo que há de melhor em mim
O dom adormecido que cala em intervalos
Você vem e, quase sem querer, desperta

Tem ideia do que é isso?
Não
Fala comigo com descompromisso
Ri pra mim porque riu pra mim
E não porque foi conveniente

Conta da sua vida
Não quero ser sua amiga
Mas se for essa a alternativa
Eu a agarro com unhas e dentes
Só pra poder ter sonhos permanentes

Tenho fotos suas escondidas
Que me curam em tempos de feridas
O seu rosto pra mim é cura forte
Remédio, reza, amuleto de sorte

Teu sorriso...
Prefiro não falar
Falar é compartilhar
Mas eu o quero só pra mim!

Quero você ao meu lado
Nas horas boas
Nas ruins eu não desejo
Eu preciso

Tudo agora é por você
Todas as diversões são calculadas
E o melhor delas
É que poderei dividi-las com você
E ouvir tudo que tem a dizer

E ouvir seus ligeiros segredos
Mas contar os meus por inteiro
Me entregar tão facilmente...
Na hora em que você quiser
No lugar em que você quiser

De primeira achei que fosse fácil
Mas percebo que você me tem
Como ninguém
Ninguém.

Não sou mulher de um só amor
E você não é minha primeira aposta
Mas faz tempo que não me sinto assim
E afirmo
É disso que esta mulher mais gosta

Não espere que eu o agradeça
E por você aqui padeça
Caso nada aconteça
Vida que segue

Mas se você quiser
Só se você quiser
Posso ser o que você quiser

Não aguento mais tanto desencontro
Nem toda essa tensão
Eu sou pé direito
Você é pé esquerdo
Mas o movimento parte da união...

terça-feira, 1 de junho de 2010

Lente de AUMENTO



Posso correr até no asfalto
que escorrego
Passo a mão sob meus olhos
eu esfrego
A um palmo do meu rosto
não enxergo
Tudo isso quando o caminho
está deserto

Mas você chega e me oferece a mão
"Oi, faminta. Você quer um pão?"
O que era pequeno ganha TAMANHO
O que era perda vira GANHO

O turvo ficou CLARO para mim
Quem diria que o MUNDO era BELO assim
Finalmente ENXERGO as FLORES!
E sou capaz de DINSTINGUI-LAS pelas CORES!

Vejo PÁSSAROS, ÁRVORES E GENTE
Vejo FRIO, MORNO E TAMBÉM QUENTE
Vejo SAL, DOCE E SEDENTO
Vejo ÁSPERO, LISO E GRUDENTO

ARREPIOS, SONHOS E FANTASIA
SONS, HARMONIA E MELODIA
SENSAÇÕES, BRILHO E SINESTESIA
Vejo TUDO aquilo que eu antes não podia

A vida deixou de ser tormento
Você me trouxe uma LENTE DE AUMENTO
Deixei para trás minha visão
E passei a ENXERGAR com SENTIMENTO


PASSEI A ENXERGAR COM SENTIMENTO!


Deixei pra trás minha visão
Você me trouxe uma lente de aumento
A vida deixou de ser tormento

Vejo tudo aquilo que eu antes não podia
Sensações, brilho e sinestesia
Sons, melodia e harmonia
Arrepios, sonhos e fantasia

Vejo áspero, liso e grudento
Vejo sal, doce e sedento
Vejo frio, morno e até quente
Vejo pássaros, árvores e gente

E sou capaz de distingui-las pelas cores!
Finalmente enxergo as flores!
Quem diria que o mundo era belo assim
O turvo ficou claro para mim

O que era perda virou ganho
O que era pequeno ganhou tamanho
"Oi, faminta. Você quer um pão?"
Mas você chega e me oferece a mão

Está deserto
Tudo isso quando o caminho
Não enxergo
A um palmo do meu rosto
Eu esfrego
Passo a mão sob meus olhos
E escorrego


POSSO CORRER ATÉ NO ASFALTO!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A parte funda



Alguns tem um sério problema: não se contentam.

Vivem me chamando atenção pelo meu all star rasgado, minha meia furada, minhas unhas roídas. Meu cabelo bagunçado, minha cara amassada e minhas roupas aleatórias.

Eu tenho um sério problema: não me contento.

Está longe de me chamar a atenção um vestidinho florido, um cabelinho arrumado e uma maquiagem bem feita. Não estou nem aí pro teu sapato lustrado, tuas calças de marca e teus óculos importados.

Tudo isso pra mim é superfície.
Mas eu sempre gostei da parte funda.

Por debaixo destes trapos existe um corpo quente. Que incendeia. Perfeitamente capaz de causar queimaduras de terceiro grau: daquelas que penetram a carne.
Por trás dos meus óculos baratos se esconde um par de olhos que almoça, janta e faz questão de sobremesa: olhos castanhos que devoram. Engolem. Sugam. Absorvem.
Por dentro de meus tênis, debaixo dos furos de minhas meias, existem os meus passos. Passos. É dali que vem o meu movimento. São com eles que eu sigo em frente.

Nunca fui aparência, máscaras não cabem em meu rosto, minha alma é profunda demais para camuflagens. Gosto de brincar com o superficial, distraindo os alheios para que evitem se aproximar da minha complexidade. Sou um buraco no fundo do mar, são poucos que suportam a pressão ao tentar mergulhar dentro de mim.

Perguntaram-me um dia por que eu não experimento ser gente de verdade, ao menos uma vez.

"Mas eu sou de verdade. Só não sou gente."


domingo, 2 de maio de 2010

À Vida



Digo olá à vida
Olá, Vida!
Tu és, do preto e branco,
A parte colorida

Pergunto como à vida
Como, Vida?
Ainda posso ser feliz
Se vivo tempos de ferida

Agradeço à vida
Obrigada, Vida
Em meio a todo esse caos
Ainda me sinto protegida

Desabafo com a vida,
É tão difícil, Vida
Mas por mais que a dor corte
Mantém a força entretida

Divido com a vida,
Mas não espalhes, Vida
Em meio à tantas folhas secas
Eu me sinto margarida

Prometo à vida
Eu prometo, Vida
Coração dilacerado
Mas fé inatingida

Confesso à vida,
Eu te confesso, Vida
Tu és, das lições,
A minha preferida.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ame!



Amar é tão gostoso! Como é pura a felicidade que vem do sorriso do outro, do brilho dos olhos, gosto da boca, calor dos abraços... A dor de um amor finito é penetrante, machuca até o fundo de nossa alma, mas faz com que nos sintamos completamente humanos.

Quando a pureza nos dá intervalo, os dias ficam cinzas... enxergamos a poluição, os acidentes, as traições e a elevação das taxas de juros.

Mas quando o amor nos invade, ah! Que delícia... O céu nunca esteve mais azul, o mundo mais colorido, as pessoas nunca pareceram tão doces e simpáticas. O café aumentou um pouquinho, mas sei como meu amor gosta de uma xícara quentinha pela manhã, e por ele faço qualquer sacrifício.

Aqui fica um conselho: ame.
E não apenas isso.
Entregue-se.

Quê importa quantas vezes o seu coração já foi partido, quando ele está sempre pronto para amar de novo? Se o sentimento foi dilacerante, significa que foi também sincero. Quem ama de verdade, sofre de verdade. Leve a dor como a prova da entrega. Sinta orgulho do mal que ela o faz. Quando estiver desacreditado, decepcionado e preocupado com a expansão do capitalismo, lembre-se: você um dia amou.

E essa é a maior prova de que, em breve, o sol voltará a brilhar de maneira encantadora.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Registrado



"Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba não"

Em meio a maré de tranquilidade que vivo, as palavras parecem apostar corrida comigo: ou eu as registro no exato momento em que vêm à tona, ou elas fogem imediatamente. Porém, de alguma forma, sinto que esse pique-pega acabará me ensinando mais do que posso imaginar.

Tudo que vive aqui dentro é tão complexo que, de vez em quando, fica difícil botar pra fora. Quando o faço, a velocidade com a qual a bomba explode é tão grande que nem eu consigo juntar os cacos, a fim de formar qualquer coisa que faça sentido. Os movimentos cotidianos de meu corpo, como o piscar de olhos, o esvoaçar de cabelos e o pisar de meus pés,são mais inteiros e completos do que qualquer som que minha voz possa emitir...

Palavras, palavras, palavras.
Promessas, promessas, promessas.
Futuro, futuro, futuro.

Isso não é suficiente.
Nenhum tipo de manifestação é capaz de alcançar a dimensão do sentimento que, em vão, tento registrar. Por quê insistir?

Para quê insistir?

Então... eu sinto
Sinto e brinco
E brinco, e vivo
E vivo viva. Eu vivo.
Viva!

Pensei em cessar os registros, mas sei que não serei capaz. Sou do tipo que gosta de cultivar memórias e eternizar qualquer coisa que julgar necessária, então não resistirei à minha próxima inspiração. Por isso, escrevo um lembrete para minha consciência (que se faz tão presente na hora da cobrança): não é necessário registrar a palavra para garantir o sentimento.

Eu senti
Senti e sofri
E sofri, e vivi
E vivi viva. Eu vivi.
Viva!

Tendo ou não registrado.
Tendo ou não me recordado.
O amor em mim ficou guardado.
E o coração baterá sempre acelerado.

Sempre.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Frio



Queria sentir frio.
Assim, subitamente.

O cômodo onde me encontro é tão aconchegante! Suas cortinas enfeitadas por violetas e amarradas por laços brancos deixam um pedacinho da árvore ali de fora aparecer. A cama é confortável, o travesseiro daqueles bem fofinhos e sua fronha é um convite à minha cabeça. A colcha que deita naquela é rosa claro com uns leves traços de um rosa mais escuro, pura graça. A temperatura é amena, deliciosa, quase perfeita.

Ainda assim, queria o frio.
E o desejo a cada vez mais.

Engraçado como essa vontade consegue me distrair de tal atmosfera aconchegante. Ainda mais eu, que sempre clamei por fogo, ardência, calor... Rogo agora pelo frio! Seria isso uma vontade de fugir dos meus próprios princípios? Transformar os meus desejos apenas para que eu possa brincar de ser contradição?

De qualquer maneira, desejo frio.
E essa vontade fantasia minha mente.

Penso como seria se o termômetro marcasse uma temperatura mais baixa e tornasse o ambiente mais negativo. Há tempos não tremo até a espinha; se o fizesse, renasceria. Sentir arrepios e vontade de procurar um outro lugar faria com que eu deixasse o aconchego e buscasse algo novo... consequentemente, faria novas descobertas e nadaria em diferentes mares.

De águas geladas, quem sabe.
Alguns icebergs, com sorte.

E então eu atravessaria onda por onda, sem medo de naufrágios ou criaturas. Exploraria cada gotinha d'água que a mim molhasse e provaria cada uma que ousasse tocar meus lábios. Daria o sal mais sede à minha boca? Quisera eu viciar-me no gosto da aventura!

Eu então morreria de arrepios.
E o frio aqueceria minha alma.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

"Modanças"



Arrumando a mala para minha viagem, comecei a experimentar algumas roupas a fim de selecionar quais delas levaria. No meio de blusas, calças e vestidos, descobri uma quantidade relevante de peças velhas das quais nem me lembrava direito e decidi ver como ficariam em mim. Surpresa me senti quando algumas das roupas serviram melhor no dia presente do que na época em que as comprei, e a satisfação veio logo após: eu não havia engordado tanto. O peso viera com o tempo, claro, mas nada que me poupasse de entrar em minhas roupas antigas. Feliz e contente, tornei a separar os ítens que poria em minha mala e, enquanto analizava quantos sapatos conseguiria encaixar ali dentro, um pensamento me veio à cabeça: por quê?

Quero dizer, por que o fato de não ter engordado me agradava tanto? Caber em determinadas peças de roupa havia se tornado mais importante do que minha própria viagem em si. Eu estava absorvendo os padrões que a indústria da moda criara e julgava serem os ideais. Olhei então para minha mala e tudo o que vi foram ítens de catálogos das mais variadas marcas. Em um estalo súbito, percebi que se dissesse que todos haviam sido adquiridos em uma mesma loja, ninguém ousaria questionar, dada a padronização dos modelos que ali estavam. Lembrei do orgulho por mim sentido quando comentara com uma amiga que meu vestido havia sido trazido de Milão por minha tia. Penso agora por que raios isso era tão importante! Era uma bela peça, mas muito semelhante a uma adquirida no próprio Rio de Janeiro. Alguns extensos quilômetros de diferença não impediram que a confecção das roupas fosse similar. E eu ali, achando que um vestido vindo do exterior valorizaria mais a minha beleza do que um de minha própria cidade, quando, na verdade, nenhum dos dois me deixava mais bela do que quando eu sorria por motivos banais. Percebi que a vontade de pertencer estava fazendo com que a moda me impusesse os padrões que me indicavam a melhor maneira de me fazer bonita. Logo eu, que tanto criticara tal homogeinização e sempre fora a favor da valorização das diferenças.

Decidi então me desfazer de determinadas peças. Não que eu tenha saído doando todas minhas roupas e decidido me tornar a Eva do século XXI, mas levei algumas ao brechó e fiz belíssimas trocas. Descobri que não existe lugar melhor para diversificar um guarda roupa sem gastar muito dinheiro e adquiri peças vintage que deram um toque especial a ele. Não deixei de comprar saias de cintura alta ou óculos joaninha e acredito que serei conquistada por modinhas seguintes, mas adorei a experiência brecholística e a diversificação que isso trouxe ao meu estilo. Por isso, aconselho aos seguidores da Vogue que se abram à novidades não tão novas assim e, com isso, libertem-se da hipnose.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Diálogo com o tempo II



- Tempo! Tu mais uma vez!

- Incomodo, querida?

- De certo modo, sim... Por quê fazes isso comigo?

- Do que falas?

- Da sua imprecisão! De quê mais poderia falar?

- Definas imprecisão.

- Passas rápido quando a felicidade me contagia, mas és tão lento quando a tristeza é que me acompanha...

- Sinto muito, menina, mas a culpa não é minha.

- Como assim? És tu o responsável pelo cair da noite e o nascer do sol! Tu és aquele que controla o dia, a noite e os segundos que fazem com que ambos passem!

- De fato, sou o criador do noite e do dia... Mas é você quem decide a hora de dormir e acordar.

- Mas tenho que seguir suas indicações! Como posso ir contra o relógio? Estaria seguindo de modo contrário o ciclo e, assim, acabaria perdida em meio à minha própria busca.

- E o quê buscas exatamente?

- Bem... Não sei ao certo. Algo que me traga um sentimento próximo ao pertencer...

- Buscas então algo que faça com que te sintas viva?

- Isso! Um sentimento que me prove que a vida faz parte de mim e eu pertenço à ela!

- Entendo.

- E então?!

- Quê mais queres, querida?

- Como assim? E quanto à minha busca, tempo?

- Estou aqui.

- Sim, eu sei. Não vais me ajudar?

- Se buscas algo que faça com que sintas que estás viva, olhe para o relógio. Cada movimento do ponteiro é a prova concreta de que algo passa... A grande questão é que não enxergas o principal.

- E qual seria o principal, tempo?

- A vida é aquela que corre, não eu... Sou apenas o instrumento usado por alguns para justificar suas derrotas. Se em algum momento da vida você falhou, é porque era inexperiente, não teve tempo suficiente para se preparar, ou então gozou do excesso e se perdeu em meio ao ócio.

- Sinto muito, tempo! Nunca pensei por esse lado...

- Não te incomodes, ninguém parou para pensar. Aliás, ninguém nunca parou para nada. Assim como eu, vocês, concretização da carne, correrão até o dia de sua partida final.

- E caso eu escolha parar de correr?

- Não tens essa opção. Se escolher definitivamente que a corrida cessará, é porque ela havia de. Em hipótese nenhuma serás capaz de romper meu ciclo. Tudo ocorre em sua devida hora.

- Então estás me dizendo que nenhum poder tenho sob mim mesma? Que tudo que acontece comigo e ao meu redor é controlado por ti?

- De maneira nenhuma. Como disse, sou apenas um instrumento da vida. Ela é quem rege tudo aquilo que acontece.

- Isso significa que sou como um fantoche.

- Que dizes com isso?

- Quero dizer que minha história já tem um roteiro, personagens e todos somos apenas bonecos com os quais a vida monta sua peça?

- De certo modo... Mas és tu quem decide o rumo do espetáculo.

- Mas se estou amarrada às tuas rédeas, como posso gozar de liberdade para decidir o que vem pela frente?

- Não tens o poder de mudar o seu passado, muito menos de decidir teu futuro. Isso é coisa minha, sou eu quem controla o que foi e o que vem.

- Ratifico, pois, minha afirmativa. Estou presa às tuas decisões.

- Entendas, menina, e é a última vez que vou te explicar. És incapaz de controlar o tempo que foi e que vem, mas estás perfeitamente apta a tomar decisões que serão as responsáveis pelo rumo dos acontecimentos. Gozas de liberdade para fazer suas escolhas e eu apenas controlo o que acontece após elas. Reges teu presente, base da vida. Portanto, és dona de tua própria história.

- Então, além de personagem, sou diretora e roteirista de minha própria peça?

- Exato. A vida e eu somos apenas expectadores.

- E como faço para ser aplaudida por tais mestres?

- Querida, esta é uma pergunta complicada...

- Entendo. Peço que a descarte.

- E como poderia? Entenda que vivemos de inversos. A mais complicada das perguntas pode ser resolvida com a mais simples das respostas.

- Então, repito: como faço para receber aplausos ao fecharem as cortinas?

- Vivas.